Mundo ao contrário

E correm! Correm! Correm atarefadas, numa multiplicidade
coloridamente ofegante, morfologicamente divergente, e numa
convergência de sentimentos iguais, mas tão iguais, que chega
a despertar em mim um sentimento tão igual e comum
que chega a ser verdadeiramente: igual.


E suam! Suam! Suam extasiados pelas vidas aparentemente pouco medíocres que levam, numa arrogância desmedida que chega a parecer, aos olhos de alguns, altruistamente humilde.


E sorriem! Sorriem! Sorriem cúmplices da sua alegre
vida, preenchida, sincera, feliz, talvez, como se transpirassem olhares invejosos de outrém não tão felizes, alegres, preenchidos e sinceros.


Depois, há também aqueles, os apáticos, que não expressam nada: não correm, não suam, não sorriem. E esses, que lugar ocupam entao neste mundo? Que lugar ocupam também eles na aridez do solo?São observadores pouco perspicazes. Observam.
E eu, onde estou?
Num banco de jardim, sentada.
E que lugar ocupo eu?
Lado direito do preenchidíssimo vazio.
E que faço?
Inexpresso inexpressáveis suspiros.


















música ->
Balancé-Sara Tavares